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Sobre o livro: PORENQUANTO

Porenquanto é o nome de um bairro de Teresina. Quando ainda não havia a ponte sobre o Rio Poti, a passagem dos que vinham a Teresina do Norte do Estado, na maior parte do ano, era feita por sobre os troncos da floresta fóssil, formação paleontológica carinhosamente chamada de ilhotas. Na época de cheia, ou porenquanto, a travessia se fazia na região onde o Rio é mais estreito. Também mais profundo. O nome do livro, emprestado do bairro, tem o sentido de contar a história do Piauí, a partir do início de seu devassamento, em 1650, entendendo-a como uma sucessão de porenquantos. Habitavam, em 1650, o Piauí cerca de 40 tribos Tapuias. Tapuias era a denominação dada pelos Tupis a seus inimigos. Para os europeus, bárbaros. Eram, os Tapuias, diferentes. Diferentes, por insubmissos: os mais valentes guerreiros das terras do Brasil, conforme descrevera, em 1795, o Padre Coutinho.

O devassamento do Piauí pela poderosa Casa da Torre, dos Garcia D’Ávila, da Bahia, e pelos preadores paulistas (autoproclamados bandeirantes), se deu em um processo contínuo de luta armada. Foram 170 anos de luta armada permanente, que causou grandes sacrifícios em vidas humanas. Eis que assim o Piauí se forjou. Desses embates, e da extinção completa dos povos indígenas do Piauí, surgiu a oligarquia agrária-pecuarista local: fortes traços de arrogância e prepotência. Inimiga figadal de posseiros, rendeiros, artesãos, do povo simples. Ao mesmo tempo sempre submissa ao poder central, colonial e, mais tarde, nacional.

A derrocada da oligarquia dos bacuraus, conquanto poder político do latifúndio, a cada momento histórico, se divisava mais e mais imperativa. Mormente porque os asseclas locais da ditadura militar. As bandeiras do Partido, então: Anistia-Democracia-Constituinte, a inserção na luta política no Piauí tinha, também, por imperativo, o combate à oligarquia dos bacuraus. Abaixo a Ditadura e Fora Oligarquia! A propósito: Bacurau é um pássaro de hábitos noturnos, que se alimenta de insetos. Muito comum nas fazendas de gado…

Após esse relato histórico, PORENQUANTO passa a tratar da reconstrução do PCdoB no Piauí, em 1979, a partir basicamente do movimento estudantil. Relata as lutas desde 1979 travadas, o fim da ditadura e, pouco depois, a derrocada da oligarquia. Por fim, lembra Esperança Garcia e a conquista das mentes e corações dos Teresinenses, em especial, pelo discurso democrático. “Alea jacta est, bradou Júlio Cezar ao atravessar o Rubicão. Comprastes um escravo, jamais uma alma, quis dizer Esperança Garcia ao nos motivar a atravessar o umbral da desigualdade social. A petição de Esperança Garcia não se compraz com a sorte. Traz consigo a certeza plena de que conquistas inexoráveis, de que dias melhores, virão”!

A despeito das conquistas sociais havidas nos últimos anos, o latifúndio e a imensa desigualdade social ainda imperam no Piauí. PORENQUANTO!

Sobre o autor: Helbert Maciel

Advogado, formado em 1982, natural do Rio de Janeiro. Foi diretor do DCE da UnB em 1978 e do DCE UFPI 1979/1980. Grevista de fome em 1982: contra o aumento do preço do bandejão, por concurso público e por eleições para Reitor. Um dos fundadores do PCdoB no Piauí. Membro da Direção Regional PCdoB Piauí.