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Um dos fenômenos incômodos ultimamente, no mundo, é a ascensão de governos de extrema direita autoritários e reacionários

Por Mário Angêlo*

O Brasil sofre com a evolução do Covid-19 entrelaçada com uma intensa e agravada crise política, institucional, econômica, social e sanitária com dimensões dramáticas na vida do povo brasileiro.

Um dos fenômenos incômodos ultimamente, no mundo, é a ascensão de governos de extrema direita autoritários e reacionários – em alguns casos com traços neofascistas como Trump (EUA), Orban (Hungria), Duterte (Filipinas) e Bolsonaro (Brasil).

O fascismo de hoje se apresenta com algumas mutações da forma clássica como surgiu na Europa no século XX e caracterizado por Armando Boito Jr. quando ele diz que: “É um movimento social reacionário que se situa nas camadas intermediárias da sociedade capitalista, ou seja, nas classes médias, e tem como principal objetivo a eliminação da esquerda do processo político e de culto à violência, anticomunista, contrária aos movimentos de modernização e democratização dos costumes e da sociedade”. Ele já se apresenta como um fenômeno novo, mas não menos perigoso. Estamos falando do neofascismo.

O neofascismo surgiu no século XXI é um movimento no Brasil que, segundo o professor da Unicamp Armando Boito Jr., “É reacionário de massa com o predomínio da alta classe média voltado contra o reformismo burguês com base popular; mobiliza uma crítica conservadora, de classe média, à corrupção e à política democrática e chegou ao governo cooptado pelo capital financeiro internacional e pela fração da burguesia brasileira a ele integrada”. Concordando com a definição do professor, podemos notar que paira uma ameaça ao Estado Democrático de Direito em nosso país.

Tanto o fascismo quanto o neofascismo trazem um apelo emocional forte contra o “outro” (imigrantes, minorias étnicas, comunistas, homossexuais, negros, nordestinos, no caso do Brasil, ou outra fantasia escolhida da vez), para buscar explicações e responsabilizar pelo desastre que é a sua política social e econômica genocida.

Neste sentido, é preciso compreender este fenômeno do neofascismo no bojo da ordem neoliberal. No caso do Brasil, construiu-se uma narrativa em que Bolsonaro é um “mito”. Embora ele seja um político medíocre com mais de 30 anos de atividades no parlamento, colocará a economia nos trilhos, acabará com a corrupção, pois é contra a prática política do favorecimento e salvará o país da ameaça dos comunistas (são todos que tenha alguma discordância do Governo).

No entanto, o que vemos é o Governo Bolsonaro utilizar um método que ameaça às liberdades democráticas; que tenta controlar as instituições para que atuem atendendo os interesses seus e de sua família; que desregulamenta a economia e as relações de trabalho para satisfazer aos interesses do capital financeiro internacional; que rearticula a prática política do “toma lá dá cá” com parlamentares do centrão envolvidos e condenados em escândalos de corrupção e que avança na militarização e milicianização da máquina pública federal.

Assim, estamos presenciando um movimento bolsonarista e um Governo Federal no Brasil, utilizando-se de um método de fazer política que se encaixa com o fascismo. A negação da ciência, ataques a quem pensa em valores opostos aos seus, propagação de notícias falsas, desprezo pelos poderes Legislativo e Judiciário, afronto às instituições, censura as artes e a imprensa, tudo isso compõe um modo operante reciclado com mutações, mas na essência igual ao fascismo do século XX, denominado neofascismo.

Não há dúvidas de que a unidade de vários segmentos da sociedade contra o fascismo tem sido em diversas ocasiões histórica a materialização de Frente Ampla, uma tática vitoriosa sobre o fascismo nos mais diversos países como no Brasil com a Frente Única Antifascista que combateu a Ação Integralista Brasileira (AIB) na década de 1930.

Por isso, a formação de uma Frente Ampla em defesa da vida, da democracia, dos empregos e direitos, das empresas é a possibilidade que temos no momento de reverter o grave quadro da conjuntura política brasileira e derrotar o fascismo atual do século XXI, marca registrada do desastroso Governo Bolsonaro e de seus apoiadores que colocam em risco nossa jovem democracia, suas instituições e a Constituição Federal.

Publicado originalmente no Pensar Piauí, em 24/06/2020

(*) Mário Ângelo de Meneses é Professor da UFPI e presidente do Comitê Municipal do PCdoB de Teresina – PI